sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A minha Avó

Infelizmente só já tenho uma avó. O meu avô paterno, o avô M. foi o primeiro a falecer, tinha eu 11 anos. Não tenho muitas lembranças dele. Tinha uns olhos cor de mar, lindíssimos e a coisa que mais gostava de ver na televisão era o Boletim Meteorológico, ainda antes do aparecimento das meninas da meteorologia da SIC. Fumava tabaco de enrolar e fazia a barba com navalha. Tenho pena de não ter tido mais tempo com ele. Por tudo o que me contam dele, devia ser uma pessoa extraordinária.
O meu avô materno, o avô E. era a pessoa mais calma que conheci até hoje. Para ele, se podia ser feito amanhã, para quê estarmos a fazer hoje? Foi logo arranjar uma mulher que é uma acelerada e o tirava do sério. Aqueles dois eram mesmo o contrário um do outro. O avô E. fazia-nos baloiços na pernada mais grossa da Nogueira que havia no quintal. Teve uma Burra que baptizou de Paula Cristina, ainda hoje desconfio que deveria ser o nome de uma ex-namorada que ele teve. A morte dele custou-me horrores. Estava a acabar de chegar da Faculdade num Sábado horrível de chuva, quando o telefone toca e a avó nos diz que o avô foi para o Hospital durante a noite. Teve uma trombose. Passado 15 dias faleceu, depois de todos os filhos e a maioria dos netos se terem conseguido despedir dele. Foi duro voltar àquela casa e não o ver sentado no seu canto preferido. Ainda hoje, passados 11 anos quando falo com a minha avó, quase lhe pergunto: "Então e o avô como está?".
A minha avó paterna, a avó M.C. faleceu uns meses depois do meu avô E., digamos que foi um ano complicado. A avó M.C. era muito velhinha e curvada. Usava dentadura e o pequeno-almoço dela era Farinha 33, desde que me lembro. Não era uma mulher de carinhos, não foi criada assim. Um dia o coração dela simplesmente parou de bater. Era fraquinho como o de um passarinho.
A minha avó materna, a avó N. tem 84 anos. É uma resistente. Não chega a medir metro e meio, não chega a pesar 50kg. Tem olhos verdes e meia dúzia de cabelos brancos. Nunca os pintou, nem nunca os cortou. Usa uma trança até ao rabo, que depois enrola, como só ela sabe fazer e prende-a com uma rede. Veste-se de preto, sempre, desde que o avô E. morreu. Diz que ele lhe faz muita falta. Visita-o no cemitério muitas vezes, leva-lhe flores, fala com ele. A avó N. vive sozinha a 400kms dos filhos e netos que tem mais perto. Faz a comida dela e cheira bem. A maior felicidade dela é ter a casa cheia, cheia de filhos, cheia de netos, cheia de amigos dos filhos e dos netos. A avó N. toma conta das casas de 3 "sobrinhas" que são emigrantes em França e apenas vêm no Verão. Toma conta das casas sozinha, e ainda lhes faz uma horta com batatas, tomates, alfaces, feijão-verde e muito mais, para quando eles chegam no verão comerem as coisinhas do quintal deles. A avó N. ainda hoje nos pergunta o que queremos comer e faz-nos os nossos pratos preferidos. A primeira vez (e única) que levei um namorado (com que acabei por casar) a casa dela, disse-lhe eu fico neste quarto e o R. fica no outro, ao que ela muito rapidamente me responde: "Deves estar a pensar que vou fazer duas camas, para a meio da noite vocês estarem os dois na mesma. Era o que faltava!". A avó N. nasceu antes do tempo dela. Tem uma cabeça mais jovem, que eu própria, por vezes, tenho. É muito prática. É a melhor mãe, avó, sogra, que já conheci. Nunca a ouvi a dar opiniões sobre a educação dos netos sem que lhe fosse pedida. Usa uma expressão muito sábia em relação ao casamento: "casamento, apartamento". O que quer dizer com isto é que há que deixar voar os filhos quando estes saem dos ninhos e deixá-los formar o seu próprio ninho. O ninho dela está sempre lá para quando qualquer um de nós precisa de colinho. Tenho o maior orgulho nesta avó. É uma grande Mulher. Adoro-a com todas as minhas forças. A minha família diz que dos filhos e netos sou a mais parecida com ela, o que me enche de orgulho. Fisicamente tenho mais 10cm que ela. De feitio somos muito parecidas também e temos aquela cena a que se chama "bicho-carpinteiro". É raro estarmos sossegaditas e se conseguirmos fazer tudo hoje não deixamos nada para fazer amanhã. É assim a avó N. que já está em Lx., para passar o Natal.

2 comentários:

  1. E pronto lá fiquei a chorar ;( Mas um chorar bom! Um chorar de felicidade, que tenhas alguém na tua vida assim..cheio de vida, energia, bondade! São raros os casos..tive um parecido..já não está :( Mas fica a doce lembrança..passados 15 anos da sua partida!!!

    Bjs grandes

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