Aos meus amigos
As palavras não são minhas, mas podiam muito bem ser...
"Às vezes, fico só a olhar para vocês. Aperto os lábios, porque todas as palavras me parecem insuficientes. Aquilo que normalmente se diz nessas ocasiões, aquilo que é aceite pelo protocolo da convivência social, não chega para começar a exprimir todo o invisível que me inunda. Então, quase sempre sentado a uma mesa, fico só a olhar para vocês. Nesses momentos, não ter palavras é muito melhor do que ter rios de palavras. Aquilo que não sei dizer existe com muita força e, se tentasse encontrar-lhe nomes, estaria a diminui-lo, a transformá-lo em qualquer coisa possível.
As palavras não são minhas, mas podiam muito bem ser...
"Às vezes, fico só a olhar para vocês. Aperto os lábios, porque todas as palavras me parecem insuficientes. Aquilo que normalmente se diz nessas ocasiões, aquilo que é aceite pelo protocolo da convivência social, não chega para começar a exprimir todo o invisível que me inunda. Então, quase sempre sentado a uma mesa, fico só a olhar para vocês. Nesses momentos, não ter palavras é muito melhor do que ter rios de palavras. Aquilo que não sei dizer existe com muita força e, se tentasse encontrar-lhe nomes, estaria a diminui-lo, a transformá-lo em qualquer coisa possível.
(…)
Mesmo havendo palavras, é difícil dizer aquilo que se quer dizer. A voz
fica presa na garganta ou antes da garganta. Não vamos cometer esse erro. Vocês
foram chegando devagar, foram entrando e quero que saibam que, hoje, são parte
da minha família. Penso em vocês entre aquilo que me é mais valioso e, sem
explicação, sinto saudades vossas de repente. Muitas vezes, sinto o toque do
sol, tão suave, e sorrio ao lembrar-me que vou partilhar esse bem-estar
convosco. Sinto-me muito grato pela companhia que me fazem. Convosco, nunca
estou sozinho.
(…)
E não
importa se estivermos no mesmo lugar apenas por um instante há cinco anos, não
importa se nunca estivemos no mesmo lugar, aquilo que realmente importa é o
segredo luminoso que partilhamos. Não é feito de palavras, mas é transportado
por elas. Esse é o nosso lugar, temos almas a vaguear nesse universo de
sentido. Vocês mostram-me todos os dias que a generosidade pode salvar. Vocês
têm muitos rostos, muitas histórias. Eu ouço-vos e encho-me de esperança
humana, de amor humano, e transbordo. Mesmo quando estou em silêncio,
agradeço-vos por me acrescentarem um sentido tão profundo. Estar-vos grato é
estar grato ao mundo inteiro, ao fácil e ao difícil, ao doce e ao amargo. Sem
um, não existiria o outro. Mesmo. Sem um, não existiria o outro, repito para
que não restem dúvidas. Chegou a hora de, todos juntos, agradecermos pelas
contrariedades. São elas, por mais feias, que nos permitem alcançar aquilo que
está para lá delas. Ao mesmo tempo, são essas contrariedades, esses silêncios,
que nos permitem prestar atenção ao que realmente nos interessa e que, como uma
fogueira, nos ilumina o rosto.
Porque nos
encontrámos, somos uma espécie de irmãos. Fomos capazes de existir sobrepostos
e, por mais ou menos tempo, partilhámos a experiência partilhável. Se amanhã
tudo se desfizer, saberemos que nos tocámos e espero que, perante o fim,
sejamos capazes de nos sentir gratos pelo que tivemos e que é bastante mais do
que a maioria das pessoas alguma vez chega a ter."
José Luís Peixoto
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